A surdez que está destruindo sua liderança
Se você não aprende a ouvir, ninguém mais vai aprender a te levar a sério
Prezado leitor,
Você cobra atenção. Cobra entrega. Cobra respeito.
Mas, no fundo, sabe que ninguém te escuta direito.
Sua equipe te ouve como se ouve um alarme que toca todo dia: com pressa para desligar.
Seus pares te escutam com aquela cara de “tá, já entendi”, mesmo que não tenham entendido nada.
A alta direção te escuta… se escuta… por obrigação.
Você fala, orienta, sinaliza, reforça.
Mas a sensação é a mesma: suas palavras batem na parede e voltam.
Já se perguntou por quê?
Porque você também não escuta.
Não escuta o mundo.
Não escuta os outros.
E, pior: não escuta a si mesmo.
Você virou um ruído que quer ser ouvido. Mas não sabe mais como se silenciar.
Liderar sem escuta é como tentar reger uma orquestra com fones no ouvido.
Você faz gestos, grita, se esforça. Mas ninguém entende a música.
E você se convence de que o problema está nos músicos.
Que a equipe é desatenta, que os colegas são egoístas, que os chefes são injustos.
Mas a verdade?
Você está surdo.
Não surdo de audição.
Surdo de atenção.
Surdo de presença.
Surdo de humildade.
Você escuta para responder ou para entender?
Todo dia, você entra em reuniões pronto para vencer.
Enquanto o outro fala, você já pensa no contra-argumento.
Você espera o erro, não a intenção.
Você coleciona falas mal colocadas para depois dizer: “Tá vendo? Eu avisei.”
Mas escutar não é sobre coletar falhas. É sobre abrir espaço.
E você não abre mais.
Está cheio demais. Cheio de certezas, de urgência, de ansiedade.
Você interrompe. Você rebate. Você fecha o rosto.
Você se torna a razão pela qual sua equipe evita te contar o que realmente importa.
Quem não escuta os outros, nunca escutará a si mesmo.
No fundo, você sabe quando algo está errado.
Sabe que passou do tom.
Sabe que a reunião não precisava daquele deboche.
Sabe que ignorou aquele pedido de ajuda.
Sabe que sua explosão não foi “por pressão”, mas por falta de controle.
Mas você se cala diante de si mesmo.
Porque escutar o que você sente dói mais do que ouvir o silêncio alheio.
Então você se protege como pode:
Com trabalho, com controle, com justificativas.
Enquanto isso, sua autoridade derrete. E você nem percebe.
Você quer ser respeitado? Comece ficando em silêncio.
O respeito nasce quando as pessoas sentem que podem existir perto de você.
Que suas ideias não serão ridicularizadas.
Que suas dúvidas não serão usadas contra elas.
Que você está ali, de verdade, ouvindo — não apenas esperando a sua vez de falar.
Quando você escuta alguém de verdade, essa pessoa começa a se transformar.
Quando você escuta a si mesmo, você começa a se curar.
Mas isso exige coragem.
Porque o que você vai ouvir não será bonito.
Você vai ouvir que está cansado.
Vai ouvir que tem medo.
Vai ouvir que anda perdido.
Vai ouvir que está triste.
E vai perceber que esse silêncio diz a verdade que ninguém ousa te dizer.
A pergunta não é por que não te escutam. A pergunta é: por que você parou de escutar?
A escuta é uma prática.
Começa pelo ambiente: o som do que você ignora.
Depois, passa pelas pessoas: o que você evita.
E, por fim, chega em você: o que você não quer mais sentir.
Mas só escuta quem fica em silêncio.
O gestor que não aprende a calar nunca será ouvido com respeito.
E, no fim, se tornará aquilo que você mais teme: uma figura ignorável.
Atenciosamente,
Tenório